Esse meio todo
24 junho
Vida é o que existe entre o
nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.No meio, a gente
descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem
transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos
abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia)
foi perda de tempo.Que a primeira
metade da vida é muito
boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma
coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual.
Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que
vamos encontrar lá dentro.Que maduro é aquele que mata no peito as
vertigens e os espantos. No meio, a gente descobre que sofremos mais com as
coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de
fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o
difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem
pressa. Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito
rápido pode ser bem frustrante.Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares
excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa.
Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase?Ora, é sempre mais forte. No meio, a gente descobre que reconhecer um problema
é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo
consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar
pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a
indiferença.Que adultos se divertem muito mais do que os
adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não
é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.No meio, a gente descobre que precisa guardar a
senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós
mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas
coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo). Que tocar na
dor do outro exige delicadeza.Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma
contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há
outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é
sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a
vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue.Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se
comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E
que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma
vida toda, esse meio todo. Martha Medeiros
0 comentários
Seu comentário precisa ser aprovado.